terça-feira, 27 de outubro de 2015

POR QUE ME APOSENTEI?

   Sabe diário, essa noite tive um sonho estranho, e acordei suando frio, sobressaltada, lembrando cenas do meu passado que eu já havia esquecido, sonhei que estava no meu antigo trabalho, em uma Repartição Pública, na  antiga mesa, rodeada dos velhos colegas, e  a velha sensação de ser perseguida por eles veio com força total, por isso acordei daquele jeito, assustada, com aquele antigo sentimento que me perseguiu por anos a fio, até o momento em que me aposentaram por invalidez... É amigo, foi duro passar por aquilo tudo, eu colocava a culpa nos outros, eles eram culpados pelo meu baixo desempenho, pela minha falta de concentração, meu chefe era culpado por não me dar oportunidades de mostrar meu potencial, e por aí vai....
   Olha diário, foram tantos anos lutando contra minha doença, e principalmente lutando contra mim mesma, eu não aceitava que era doente, e com isso insistia em trabalhar, e em exercer minha função de funcionária pública, no auge do meu delírio eu me idealizava a funcionária perfeita, a mais competente e também a mais injustiçada, pois eu nunca era promovida, então eu demonizava meus chefes, colocava neles o problema dos meus insucessos e a estagnação na minha carreira. Olha só diário, a situação ficou tão insustentável, que fui interditada judicialmente a comparecer no trabalho, devido o transtorno que eu causava. Como eu era (e sou) esquizofrênica, não me adaptava em lugar nenhum, pensava que tinha alguém me espionando para me prejudicar, e logo arrumava uma confusão, imagina isso acontecendo por anos a fio...
    Depois passei um tempo de licença médica, proibida de trabalhar, depois fui aposentada por invalidez. Como sempre fui rebelde e não aceitava minha doença, não tomava os remédios, então os surtos vinham consequentemente. Muitas vezes eu acordava cedo, me arrumava, pegava minha bolsa e queria ir para o trabalho, meu marido Roberto foi o anjo que me acalmava, e dia após dia tentava me colocar a par da minha situação: "Ce, você está de licença, não pode ir trabalhar, se trata direitinho meu amor, um dia quem sabe você volta..."
    Hoje consigo falar sobre isso, mas até bem pouco tempo me recusava a tocar nesse assunto, morria de vergonha, parecia que não fui eu que vivi aquela história, não fui eu que fiz aqueles escândalos todos, que desacatei meus chefes, meus colegas, os médicos, a ordem pública, tudo enfim...
    Imagina então o que se passou na minha família, meu marido, que no fim teve que cuidar de todo meu desequilíbrio mental,emocional e espiritual, meus filhos que se encontravam entre a fase da puberdade e adolescência, começando a descobrir seus ideais e precisando de uma estabilidade familiar, meus enteados também começando suas vidas, e presenciando esse desajuste brutal, pensa em como me sinto lembrando disso tudo agora diário...
     Eu pensei que tivesse esquecido disso tudo, mas parece que nosso cérebro é que decide, e parece que o meu cérebro não deletou isso, veio tudo com força total, me lembrei de tudo que se passou, as cenas, as agressões, as acusações que fiz aos meus colegas e chefes gratuitamente, as situações de pânico que criei do nada, enfim, de todo constrangimento que os fiz passar por causa da minha doença. Adianta pedir desculpas agora? não sei, pelo menos o arrependimento veio, simplesmente por eu não ter sido humilde o suficiente para me reconhecer doente, e aceitar o tratamento,  quem sabe se se assim fosse as coisas teriam sido diferentes?
   Pois é diário, um conselho para quem sofre como eu, não recuse o tratamento, nunca...ele pode salvar sua vida, a medicina e os remédios estão tão evoluídos que as doenças psiquiátricas tem ótimos tratamentos agora, pena que eu não acreditei nisso antes..
    Bejos diário, vou caminhar no Ibirapuera, ele é parte integrante do meu tratamento, bejinhos...

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